Tic-Tac

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009




Ansioso ele esperava, aguardava qualquer manifestação. Nenhum movimento, tudo na mesma, o relógio com o seu constante e simétrico tic-tac faziam eco na sala vazia. Ele sentado em um sofá de couro marrom envelhecido ao lado de uma mesa pequena, porém, grande o bastante para repousar um copo de Whisky e o telefone que teimava em não tocar. Bem a sua frente havia uma lareira apagada que ele tanto fazia questão de ostentar em sua casa e se lembrara da ultima vez que a acendeu e, se perdeu em seus pensamentos e se flagrou fitando a bela paisagem que a cortina escondia, pela fresta de imagem que o pano não cobria ele conseguia ver um belo jardim, via a beleza do fim de tarde e a vida que começava a brotar do seu jardim, olhou o telefone, voltou a ouvir o ensurdecedor tic-tac do relógio e deu uma generosa golada do seu whisky, admirou o copo vazio, apenas duas pedras de gelo, virou-o mais uma vez tentando retirar o último gole daquele copo, mais agua do que whisky, e na mesa ao seu lado uma garrafa quase cheia. Encheu novamente o seu copo, e enquanto com o dedo misturava o gelo com o whisky ele pensava em tudo que o fez levar até ao presente e desesperado momento, já se completavam quase 3 horas dentro daquela sala a espera de um telefonema.

Decidiu se levantar, andou de um lado para o outro e pensou em acender a lareira, pensou um pouco mais e achou que teria trabalho demais para fazê-lo , desistiu. A garrafa de whisky já estava quase vazia, o fim de tarde deu lugar a uma bela noite de primavera, enquanto andava pela sua sala seus olhos passaram pela paisagem linda, mas rapidamente seu olhar se prendeu no detalhe mais incomodo....O relógio, o barulho infernal que se destacava no silencio...O tempo que insistia em passar cada vez mais devagar. Olhou para o telefone que insistia em não fazer o relógio se calar, o som do telefone não se fazia presente, apenas o agoniante tic-tac.

Pensou em pegar o telefone e fazer a importante ligação, pensou um pouco mais....e mais um pouco, e finalmente chegou a conclusão de que não seria certo ceder a sua angustia, decidiu esperar. Prometeu nunca mais errar para não se ver novamente naquela situação, não havia mais remédio, sua espera era venenosa e seu antídoto era simples e estupidamente fácil, o orgulho era o agente causador...era seu veneno, e novamente decidiu em não pegar o telefone.

O dia passou, a garrafa ficou vazia, no seu copo o gelo já se transformara em uma agua turva e morna, o sono chegou e o tic tac já não incomodava tanto. Ele acordou e preferiu dar mais importância a paisagem do que ao relógio, o tempo passou a ser seu amigo, a vida já não era tão longa e imprevisível, o tic tac era seu melhor amigo e esse amigo sempre o fazia pensar de quanto vale a pena agir, e com esse novo amigo ele aprendeu que ficar sentado e esperar de nada adianta, se o tic tac é o mesmo, se o telefone insiste em não tocar, se nada muda...Ele aprendeu de que é preciso dar o primeiro passo e fazer a mudança acontecer.... E o tic tac que o perturbava e não o deixava relaxar, o fez acordar....acordar para a vida, o tempo passou a andar mais depressa e a sua sede agora era de viver. E novamente a chama da lareira se acendeu.